sábado, maio 06, 2006

Espertina

As insónias quando me acontecem fazem-no sem necessidade de autojustificação. Porque não durmo? Não sei. Não há razão. A insónia não me permite sequer manter-me de olhos fechados, pensando, pensando e pensando, não (e ainda bem); é como se me tivessem implantado molas nas pálpebras e elas se mantivessem assim escancaradas a noite inteira - e daí a haver uma mola a tirar-me da cama vão segundos.

Há, na insónia, uma coisa que me perturba e outra que me regala o espírito. A primeira é a sensação de que vou na direcção contrária ao resto do mundo e que cada segundo que passa reforça a consciência da minha oposição*. Já a segunda, quando me esqueço que amanhã há sociedade outra vez, é a deste prazer verdadeiramente solitário que é vir à janela cheirar a noite (porque a noite tem cheiro), olhar um pedaço do terço da vida que as pessoas gastam no seu sono e esperar até que não haja nenhum carro a passar ao longe para poder ouvir o som perfeito e imaculado do silêncio. É uma música que só a esta hora se pode ouvir.

* mas também, quem me garante que esse "mundo" anda bom da cabeça?

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24 anos, velha carcaça.