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Às vezes esqueço-me de levar música ou algo para ler na viagem diária de Setúbal a Lisboa e então entretenho-me a encostar a cabeça para trás, olhar o céu e procurar Deus sentado numa nuvem qualquer (as janelas são grandes e eu vou sempre encostada a uma). Pode ser que Ele lá esteja! Nunca se sabe, e Ele pelo menos nunca se poderá queixar de pouco esforço da minha parte. Ele nunca poderá dizer que eu não O procuro.
Entretanto, dá-se desde sempre neste autocarro um fenómeno estranho, e eu certamente já fiz mais de mil idas e voltas. As pessoas conseguem dormir em bancos desconfortáveis, muitos deles estão "avariados" e não se conseguem puxar para trás, e eu garanto que há muito solavanco violento durante os quarenta minutos. Mas as pessoas dormem ali e se for preciso ressonam, e assim permanecem mesmo que o condutor passe por cima de um calhau. Isto para mim é inconcebível, pois enquanto eu não estiver na horizontal e aconchegada sou incapaz de adormecer. Mas eu ali já vi as mais bizarras posições de sono.
E o mais incrível de tudo é que isto passa-se às 8 da manhã, pelo que eu só posso concluir que somos um povo que dorme mal. Se às 8 da manhã se dorme que nem uma pedra num sítio tão confortável quanto uma pedra, é porque andamos todos a dormir mal. Ou então andamos a dormir o tempo todo, daí a lentidão da retoma económica.
Também não gosto daquelas pessoas que mal aparece uma ponta de sol pedem logo para puxar a cortininha. Cócós.