quarta-feira, abril 12, 2006
Sobre Ele
O medo não se quantifica, é impossível. Porque ele é infinito. O medo não se expulsa nunca, ele apodera-se, ramificando-se, e quando damos por nós estamos já petrificados. O medo é uma estátua, um monumento gigantesco, e a tendência mecânica é para o reverenciarmos com uma vénia. Muito respeito. O medo ganha vida própria (e adquire contornos maiores do que a própria vida). O medo nasce dentro de nós, dentro do peito, nasce por produção involuntária da alma, surge assim quase do nada mas transcende-nos mais tarde e torna-se uma entidade solene anexada à nossa pessoa, e acompanha-nos para todo o lado daí em diante. A certa altura, o medo deixa de nos pedir licença e ocupa-nos o quotidiano. O medo, sendo uma coisa natural, tem no entanto esse perigo imenso: pode tornar-se numa forma de vida, ditando acções, reacções e decisões. E torna-se doloroso, por arrasto, somente pensar sobre esse fenómeno do medo, por consciência da sua omnipotência.
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24 anos, velha carcaça.
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