Acabo de regressar de mesas de voto às moscas.
Ainda sem saber os resultados exactos da abstenção no referendo deste ano, não deixo contudo de sentir neste momento uma raiva muito grande pelas pessoas deste país. Não percebo qual é o problema dos portugueses. Sei que são tacanhos, medrosos, amorfos, provincianos, broncos, cobardes, invejosos, conformistas, pobres de espírito, ignorantes, eu sei que são isso tudo. Num país deste calibre, não me surpreendem os níveis de abstenção obscenos em eleições para o Parlamento Europeu (que é isso?). Pronto, até aí nada de novo.
Mas quanto ao aborto, que diz respeito a valores e emoções centrais, que não raras vezes desperta o que há de de mais primário nas pessoas, que as põe a chamar "assassinas" e "medievais" umas às outras (reacções típicas no fenómeno do futebol, que atrai definitivamente este povo), que diz directamente respeito a milhares de mulheres e seus mais chegados, eu não consigo perceber.
Quanto ao aborto, depois da vergonha que foi a ausência das urnas há 9 anos, depois de campanhas bem mais mobilizadoras, com multiplicação de movimentos cívicos, e com a certeza na cabeça de todos de que este é um problema que tem que ser resolvido, escapam-me os porquês deste comportamento.
Havia a praia em 1998, agora há chuva em 2007.
Não dá. Por mais que tentemos, é impossível fazer dos portugueses uma espécie civilizada e merecedora da democracia.
1 comentário:
Valores e emocoes nao se prestam a referendo. O governo foi eleito: que faco o seu trabalho. Se ha' um problema, entao que o resolva e assuma a responsabilidade das suas solucoes em vez de o atirar para o povo etc, etc. Apenas se ve que o proprio governo e' etc, etc como o povo de onde veio.
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